sábado, 26 de agosto de 2017

A importância do NOPH e do ECOMUSEU DE SANTA CRUZ

Entretanto, além destas obras, outros fatores irão influenciar no aumento do interesse pela história local nesse período. O principal deles, como apresentado no início deste trabalho foi a atuação do NOPH - Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica de Santa Cruz.

Através de projetos e atividades voltadas para a comunidade local, sua atuação ultrapassou os limites geográficos da região, contribuindo para o estímulo da memória coletiva e da pesquisa histórica. Em sua biblioteca encontramos um acervo bibliográfico e museológico, com grande parte da história de Santa Cruz, podendo ser consultado por estudantes, pessoas interessadas na história local e outros pesquisadores.

A publicação dos boletins do NOPH foi outro elemento importante que propiciou o interesse pela história local nesse período. Esses impressos, num total de 33 unidades, em formato tabloide, foram distribuídos em bibliotecas, museus, arquivos, centros culturais, escolas e universidades, e muitas vezes entregues até nas próprias ruas do bairro. A importância desses boletins ultrapassou os próprios limites da região de Santa Cruz e sua distribuição alcançou outros Estados, o Distrito Federal, chegando até o exterior.
 
Esses boletins irão contribuir para o crescimento do NOPH e vários fatores irão justificar a sua importância. Entre eles podemos destacar as facilidades que esses pequenos tabloides ofereceram em termos de espaço para a divulgação de imagens, numa época em que ainda não existiam os recursos tecnológicos de hoje, além de contribuir para uma maior aproximação do leitor com a história do bairro.
 
Outra grande contribuição para a história de Santa Cruz foi a criação de um Ecomuseu, cujo marco inicial surgiu a partir da realização do I Encontro Internacional de Ecomuseus realizado no Rio de Janeiro em maio de 1992. A finalidade era discutir um novo pensamento que começava a surgir na Museologia, entre as décadas de 1960 e 1970. 

Essas experiências começaram a surgir no México e foram concretizadas na França, com o desenvolvimento de diversas experiências eco museológicas voltadas para o trabalho comunitário, em busca de respostas e soluções para seus problemas, e a partir daí a Museologia atuaria como o elo entre o passado e o presente. Ainda neste Encontro, vários membros do NOPH se fizeram presentes constatando que as experiências e o trabalho desenvolvido desde 1983, eram de certa forma muito semelhantes aquelas que eram colocadas pelos participantes.  

A partir do reconhecimento por parte desses especialistas, Santa Cruz passou a sediar aquele que seria o primeiro Ecomuseu do Rio de Janeiro, denominado Ecomuseu do Quarteirão Cultural do Matadouro, localizado ao lado de inúmeras unidades escolares e outros prédios históricos.

Em 1° de setembro de 1995 a Lei do Ecomuseu foi sancionada pela Prefeitura do Rio, após ser votada e aprovada pela Câmara Municipal, passando a fazer parte da estrutura da Secretaria Municipal de Cultura da Cidade do Rio de Janeiro. A Lei Municipal recebeu o número 2.354. Com a criação do Ecomuseu, a comunidade de Santa Cruz iniciou então uma nova fase em sua história e tenta até hoje desbravar os obstáculos na luta por melhores condições de vida.

O Ecomuseu se tornou então um espaço livre, vivo, sem donos ou dogmas, amplamente independente de políticos, governo ou partidos e somente a vontade e a luta da comunidade serão capazes de levar adiante este projeto, com a presença de todos aqueles que têm interesse em construir a nossa história e a história de Santa Cruz.
 
O Ecomuseu do Quarteirão Cultural do Matadouro atualmente tem sua sede administrativa no Centro Cultural Dr. Antônio Nicolau Jorge, Rua das Palmeiras Imperiais, s/nº, Santa Cruz. Neste local encontra-se todo o acervo do NOPH e podem ser dadas todas as informações sobre a História de Santa Cruz, de outros bairros da Zona Oeste, da Costa Verde e da própria cidade do Rio de Janeiro. A partir da sua criação e da distribuição dos seus boletins, editados pelo NOPH a partir de 1993, denominados de Quarteirão, muito se contribuiu para a divulgação da história local e o reconhecimento da importância do bairro e da antiga Fazenda de Santa Cruz entre estudantes e pesquisadores das mais diversas áreas.

Fonte: Arquivo Particular. Lamego, Adinalzir Pereira (2012)
Na foto acima vemos o Palacete Princesa Isabel, construído na área da Antiga Fazenda Imperial de Santa Cruz (Avenida do Matadouro) para ser a sede administrativa do Matadouro Público. Foi inaugurado em 1881, com a presença do Imperador Pedro II. Em estilo arquitetônico neoclássico. O prédio abrigou em 1886 o Colégio Princesa Isabel, depois denominado Escola Estados Unidos, Escola Politécnica e Ginásio Princesa Isabel. Hoje funciona como Centro Cultural Municipal de Santa Cruz. Onde se localiza também a Biblioteca Municipal do bairro.

Hoje instalado na nova sede, o NOPH – Ecomuseu de Santa Cruz tem despertado o interesse de inúmeros pesquisadores interessados na história da Fazenda de Santa Cruz. Recebendo pessoas dos mais diversos bairros do Rio de Janeiro para conhecer a região que um dia foi a sede da Fazenda, frequentada pelo poder real e depois pelos imperadores. 

As relíquias patrimoniais existentes no território do antigo bairro nos remetem a um tempo em que viajantes estrangeiros, acompanhando a Corte, fizeram importantes registros de uma época, através de aquarelas, pinturas, diários de viagem, crônicas e mais tarde fotografias como as de Augusto Malta, documentos valorizados pelos pesquisadores e curiosos, extremamente importantes para interpretar o passado e abrir olhos e mentes para o futuro.
 
Observamos, que junto com as pessoas que vem de outras regiões da cidade, os que vivem em Santa Cruz, tem se voltado cada vez mais para a construção da memória e assim, novos espaços de lazer e entretenimento vão sendo criados no bairro e no Centro de Documentação do NOPH / Ecomuseu de Santa Cruz com informações culturais e imagens quase perdida s no tempo.

O que será que procuram esses pesquisadores? Talvez seja um pequeno pedaço da história que não viveram e sequer conheceram em sua vida na cidade partida do Rio de Janeiro, que ignorou por décadas essa parte da zona oeste carioca que um dia já foi sede de governo nas temporadas de veraneio de D. João VI, D. Pedro I e D. Pedro II. Uma história que muito poucos conhecem.

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