sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Novas Fontes para o Estudo da História de Santa Cruz

Por Elias Alves Historiador
Santa Cruz, Rio de Janeiro, RJ. Em 19/12/2018.
            
Alguns títulos de fontes sobre a História de Santa Cruz podem ser consultados no blog do NOPH, no artigo intitulado "Resumos e Fontes para o Estudo da História de Santa Cruz", de autoria do Historiador Adinalzir Pereira. Contudo, sempre haverá muitas outras fontes para o estudo da História local. Elas vão desde obras mais clássicas até pesquisas científicas de doutoramento ainda em andamento.

Abaixo segue uma lista de novos artigos sobre a Santa Cruz histórica. Selecionando o título do trabalho, você terá acesso ao link para os textos no Google.

No artigo "Relações sociais entre negros e índios nas fazendas inacianas - Rio de Janeiro, século XVIII", a Historiadora Márcia Amantino sublinha a importância dos relacionamentos econômicos e sociais entre escravos e índios no Setecentos para a manutenção tanto de si próprios quanto para o entendimento do processo de colonização. Já no trabalho "Reprodução Endógena e Mestiçagens dos Escravos nas Fazendas Jesuíticas na Capitania do Rio de Janeiro, 1759-1779", a mesma se debruça sobre a relação entre jesuitismo e escravidão nas fazendas da ordem no Rio de Janeiro, (Santa Cruz inclusive).

O artigo "Escola Mixta da Fazenda Imperial de Santa Cruz (1885-1889): Uma Proposta de Ensino Profissional do Imperador D. Pedro II", de autoria de Adriana Beaklini e Nailda Bonato, foca no projeto “civilizador” que a Escola Mixta representou no contexto abolicionista.

O Historiador João Corrêa já acumula uma profícua produção acadêmica sobre a Santa Cruz histórica. No texto "Escravidão e Música na Real Fazenda de Santa Cruz, séc. XIX", ele faz uma análise interessante a respeito do ofício da Música desempenhado pelos escravos da Fazenda de Santa Cruz tanto no período jesuítico como no posterior. O pesquisador escreveu também sua dissertação de Mestrado defendida no Programa de Pós-Graduação em História do Brasil da Universidade Salgado de Oliveira (PPGHB/UNIVERSO) intitulada "Imperial Fazenda De Sua Majestade O Imperador: Um Estudo Sobre a Administração Pública no Brasil Imperial", onde ele abrange a administração imperial da fazenda de Santa Cruz no século XIX e seu impacto sobre a escravaria local. Já no trabalho "Libertos da Nação: os meandros de uma liberdade", Corrêa analisa a situação dos recém-libertos da Fazenda de Santa Cruz. Em "Imperial Fazenda de Santa Cruz: Escravidão e Liberdade na Segunda Metade do Século XIX" (1856-1891), a fim de analisar o processo de libertação da escravaria da Fazenda, Corrêa se detém também sobre o período imediatamente anterior e posterior à Abolição (1856-1891). No artigo "Uma História Administrativa de Santa Cruz", o professor se debruça ainda sobre a história administrativa de Santa Cruz, desde a administração jesuítica colonial até o fim do Império em 1889.

Fruto de pesquisa de Mestrado em andamento, o trabalho "Os Administradores Da Real Fazenda De Santa Cruz – Rio De Janeiro, 1760 a 1821" de Thales Costa foca no período de transição da administração jesuítica para a joanina com foco no perfil sociopolítico dos administradores.

No artigo "Comunidades Escravas e Grandes Escravarias no Sudeste do século XIX", o saudoso professor Carlos Engemann apresenta as reflexões iniciais da pesquisa que ele conduziu em torno de algumas grandes escravarias do Sudeste no século XIX (Santa Cruz inclusive). Engemann escreveu também "Os escravos do Estado e o estado de seus escravos: o caso da Real Fazenda de Santa Cruz, RJ (1790-1820)", onde ele foca no impacto social que as transformações políticas do período de transição pós-jesuítico tiveram sobre a escravaria. Existe também disponível uma cópia da dissertação de Mestrado do autor intitulada "Os Servos de santo Inácio a serviço do Imperador: Demografia e relações sociais entre a escravaria da Real Fazenda de Santa Cruz, RJ. (1790- 1820)". Nesse trabalho, Engemann rejeita alegações de que o estudo da histórica Fazenda de Santa Cruz não tem relevância e mostra como, para muito além das notas pitorescas, a escravaria lá mostrou uma agência e vitalidade que seriam significativas para o todo histórico do período. Esse grande especialista escreveria ainda, juntamente com Cláudia Rodrigues e Márcia Amantino o texto "Os Jesuítas e a Ilustração na Administração de Manuel Martins do Couto Reis da Real Fazenda de Santa Cruz (Rio de Janeiro, 1793-1804)", onde eles se detêm no estudo daquela administração durante o período indicado para tentar responder ao paradoxo de como foi possível aquele representante típico da Ilustração Portuguesa ter sido tão grande admirador da administração jesuítica, a ponto de elevá-la a modelo.

Em "De chão religioso à terra privada: o caso da Fazenda de Santa Cruz", Fania Fridman faz uma verdadeira história fundiária da Fazenda de Santa Cruz que vai desde o período jesuítico até as transformações do século XIX.

A questão da propriedade em Santa Cruz também foi abordada pela professora Manoela Pedroza em tese de doutoramento defendida recentemente no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense (PPGH/UFF). A tese intitula-se "Capítulos para uma história social da propriedade da terra na América Portuguesa. O caso dos aforamentos na fazenda de Santa Cruz (Capitania do Rio de Janeiro, 1600-1870)". Nesse trabalho, Pedroza trata da construção dos direitos de propriedade no Brasil e toma a Fazenda de Santa Cruz como estudo de caso com um recorte amplo que vai desde o século XVI até 1870. Infelizmente até o momento da publicação deste artigo, a tese não havia sido disponibilizada no site do PPGH/UFF, mas o NOPH possui uma cópia em PDF disponível para quem tiver interesse.

Outra tese de doutoramento que pode ser útil aos interessados na História de Santa Cruz é o trabalho intitulado "Escravos da Nação: o público e o privado na escravidão brasileira, 1760-1876", de Ilana Rocha. Nessa monografia defendida no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade de São Paulo (PPGHE/USP) em 2012, a Historiadora analisa a situação específica dos “escravos da nação” no período pós-jesuítico e imperial, com análises pormenorizadas para a Fazenda de Santa Cruz, entre outras.

No artigo "Fazenda Jesuítica Imperial, Nacional de Santa Cruz: da acumulação fundiária à colonização agrícola dirigida (Fazenda Nacional de Santa Cruz, Rio de Janeiro, 1850-1930", de autoria de Henrique Silva e Max Oliveira, esses dois historiadores uniram-se para abordar a dinâmica da história fundiária da Fazenda no período de 1850 a 1930.

Henrique Dias também estudou a experiência de colonização conhecida como Núcleo de Colonização de Santa Cruz (NCSC) entre as décadas de 1930-60, com ênfase nos projetos oficiais e nos anteprojetos dos colonos. Seu trabalho "Nas tramas da colonização: uma história social dos colonos e da colonização agrícola em Santa Cruz. (Estado do Rio de Janeiro, 1930-1968)" foi apresentado como Dissertação de Mestrado no Programa de Pós-Graduação em História da UFRRJ (PPGH/UFRRJ) em 2017.

Ainda defendida em 2017 no PPPGH/UFRRJ temos a dissertação de Mestrado intitulada "Do Boi só não se aproveita o Berro! O comércio das carnes verdes e as transformações socioeconômicas da Imperial Fazenda de Santa Cruz com a construção do Matadouro Industrial (1870-1890)", de autoria de Edite Costa. Nesse trabalho a autora observa as questões sociais e econômicas, bem como as relações de poder envolvidas no processo de transferência e construção do matadouro imperial entre 1870-1890.

Para o pesquisador da área de Patrimônio há ainda o trabalho "Fazenda Real De Santa Cruz – Patrimônio Histórico", em que o professor Sinvaldo Souza discute a importância de Santa Cruz enquanto patrimônio histórico.

Há também o artigo "A Fazenda de Santa Cruz e a Crise do Sistema Colonial (1790-1815)", onde Sônia Viana foca no período de transição pós-jesuítico e nas medidas que a coroa portuguesa empreendeu para tornar o latifúndio de Santa Cruz um modelo visando fazer face às alterações no Império no contexto da crise do Antigo Sistema Colonial.

Até aqui citamos somente fontes secundárias para a História de Santa Cruz. Entendemos, a grosso modo, que fontes primárias (ou “de primeira mão”) e secundárias ou (“de segunda mão”) são, respectivamente, as produzidas na época estudada e as produzidas a partir dessas, normalmente em forma de historiografia. Desse modo, para aqueles interessados em se aprofundar ainda mais usando fontes primárias há o "Fundo: Fazenda Nacional de Santa Cruz: inventário dos documentos textuais" que, além de ser um guia para o maior Fundo documental sobre a Fazenda de Santa Cruz, apresenta introdutoriamente um pequeno resumo da História Geral daquela Fazenda.

Concluindo, podemos dizer que essa lista nem de longe é conclusiva. Cada um desses trabalhos têm conduzido a pesquisas muito mais aprofundadas sobre os aspectos abordados neles que se relacionam com a História do bairro. Isso também se dá porque além de muitas dessas pesquisas estarem em andamento, existem muitas fontes inéditas para abordar e novos olhares sobre documentos e dados antigos, bem como metodologias e interesses renovados. Na verdade, todo esse revisionismo é da natureza da História-Ciência (RUSEN, 2001: 37; CARR, 1961: 29; TOSH, 2011: 208).

Isso tudo faz da História de Santa Cruz um tema amplo, vivo, dinâmico e sempre inconcluso, aberto a saudáveis tensões historiográficas e em processo de constante (re)elaboração e revisão, muito longe de visões cristalizadas que poderíamos ter sobre o ela.

Referências:
AMANTINO, M. Relações sociais entre negros e índios nas fazendas inacianas - Rio
de Janeiro, século XVIII. In: Anais do XIX Encontro Regional de História: Poder,
Violência e Exclusão. ANPUH/SP-USP. São Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008. Acesso em 3/12/2018.

Reprodução Endógena e Mestiçagens dos Escravos nas Fazendas Jesuíticas na Capitania do Rio de Janeiro, 1759-1779. In: Revista História e Cultura, Franca-SP, v.3, n.2, p.250-273, 2014. Acesso em 3/12/2018.

Arquivo Nacional (Brasil). Coordenação de Documentos Escritos. Equipe de Documentos do Poder Executivo e Legislativo. Fundo: Fazenda Nacional de Santa Cruz: inventário dos documentos textuais (códices)/Equipe de Documentos do Executivo e Legislativo; Sátiro Ferreira Nunes. 2ª. ed. rev. - Rio de Janeiro : o Arquivo, 2017. Acesso em 4/12/2018.

BEAKLINI, A. V. & BONATO, N. M. C. Escola Mixta da Fazenda Imperial de Santa Cruz (1885-1889): Uma Proposta de Ensino Profissional do Imperador D. Pedro II. In: IX Seminário Nacional De Estudos E Pesquisas “História, Sociedade E Educação No Brasil” Universidade Federal da Paraíba – João Pessoa – 31/07 a 03/08/2012 – Anais Eletrônicos. Acesso em 04/12/2018.

CARR, E. O Historiador e seus fatos. In: Que é História? Rio de Janeiro – RJ: Paz e Terra, 1961. (2ª. Ed.).

CORREA, J. B. Escravidão e Música na Real de Santa Cruz, séc. XIX. In: AMANTINO, Marcia e ENGEMANN, Carlos (ORGS). Anais do II Fórum Discente do Mestrado em História do Brasil da UNIVERSO, 2016. Acesso em 3/12/2018.

Imperial Fazenda de Santa Cruz: Escravidão e Liberdade na Segunda Metade do. Oitocentos (1856-1891). Dissertação de Mestrado defendida em 2016 no Programa de Pós-Graduação em História do Brasil da Universidade Salgado de Oliveira (PPGHB-UNIVERSO). Acesso em 4/12/2018.

Imperial Fazenda De Sua Majestade O Imperador: Um Estudo Sobre a Administração Pública no Brasil Imperial. In: Revista Sobre Ontens 2016. Acesso em 3/12/2018.

Libertos da Nação: os meandros de uma liberdade. Revista Movimentos, Trânsitos e Memórias. SARMIENTO, E.; CARVALHO, M. P. & FLIER, P. Niterói – RJ: Editora ASOEC/UNIVERSO, 2016, pp. 219-231. Acesso em 26/11/2018.

Imperial Fazenda de Santa Cruz: Escravidão e Liberdade na Segunda Metade do Século XIX (1856-1891). In: AMANTINO, M. & RODRIGUES, F. Trajetórias e Desafios: dez anos produzindo conhecimento (2006-2016). Publicação do Programa de Pós-Graduação em História do Brasil da Universidade Salgado de Oliveira (PPGHB/UNIVERSO). Niterói – RJ: UNIVERSO, 2016, pp. 118-124. Acesso em 4/12/2018.

Uma História Administrativa de Santa Cruz. In: AMANTINO, Marcia e ENGEMANN, Carlos (ORGS). Anais do I Fórum Discente do Mestrado em História do Brasil da UNIVERSO, 2014. artigo em PDF, acesso em 3/12/2018, disponível em: http://revista.universo.edu.br/index.php?journal=1reta2&page=article&op=view&path%5B%5D=1760&path%5B%5D=1179

COSTA, E. De Boi não se aproveita o Berro! O comércio das carnes verdes e as transformações socioeconômicas da Imperial Fazenda de Santa Cruz com a construção do Matadouro Industrial (1870-1890). Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (PPGH/UFRRJ), 2017. Disponível em:
https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/trabalhoConclusao/viewTrabalhoConclusao.jsf?popup=true&id_trabalho=5566067 Acesso em19/12/2018.

COSTA, T. G. T. Os Administradores Da Real Fazenda De Santa Cruz - Rio De Janeiro, 1760 A 1821. Publicação do XXIX Simpósio Nacional de História. 

ENGEMANN, C. Comunidades Escravas e Grandes Escravarias no Sudeste do século XX, s/d e s/ed. 

Os escravos do Estado e o estado de seus escravos: o caso da Real Fazenda de Santa Cruz, RJ (1790-1820). In: Cadernos de Ciências Humanas - Especiaria. v. 10, n.18, jul. - dez. 2007, p. 591-622. Acesso em 3/12/2018.

Os Servos de santo Inácio a serviço do Imperador: Demografia e relações sociais entre a escravaria da Real Fazenda de Santa Cruz, RJ. (1790- 1820), cópia em PDF de dissertação de Mestrado defendida no Programa de Pós-Graduação em História Social da UFRJ (PPGHIS/UFRJ) no ano de 2002. Acesso em 3/12/2018.

ENGEMANN, C.; RODRIGUES, C.; AMANTINO, M. Os Jesuítas e a Ilustração na Administração de Manuel Martins do Couto Reis da Real Fazenda de Santa Cruz (Rio de Janeiro, 1793-1804). In: História Unisinos13(3):241-252, Setembro/Dezembro 2009, artigo em PDF. Acesso em 4/12/2006.

FRIDMAN, F. De chão religioso à terra privada: o caso da Fazenda de Santa Cruz. Artigo publicado no Simpósio internacional Estrategias productivas y transformaciones del espacio en el mundo rural. Uruguay, Brasil y Argentina (siglos XIX y XX). s/d e s/ed. Acesso em 4/12/2018.

PEDROZA, M. Capítulos para uma história social da propriedade da terra na América Portuguesa. O caso dos aforamentos na fazenda de Santa Cruz (Capitania do Rio de Janeiro, 1600-1870). Tese de Doutorado defendida no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense (PPGH/UFF). 2018. Até o momento de produção desta tabela, a tese não estava disponibilizada no site do PPGH. Interessados podem procurar a cópia em PDF no NOPH ou consultar em: http://www.historia.uff.br/

ROCHA, I. P. “Escravos da Nação”: o público e o privado na escravidão brasileira, 1760-1876. Tese de Doutorado (USP/FFLCH/PPGHE), São Paulo – SP: 2012. Acesso em 26/11/2018.

RÜSEN, Jorn. Tarefa e funçã.o de uma teoria da História. In: Razão Histórica. Teoria da História: os fundamentos da ciência histórica. Brasília: UNB, 2001.

SILVA, H. D. S. & OLIVEIRA, M. F. R. Fazenda Jesuítica Imperial, Nacional de Santa Cruz: da acumulação fundiária à colonização agrícola dirigida (Fazenda Nacional de Santa Cruz, Rio de Janeiro, 1850-1930). In: Revista do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro - RJ, N.14, 2018, pp. 169-191, arquivo em PDF. Acesso em 4/12/2018.

SILVA, H. D. S. Nas tramas da colonização: uma história social dos colonos e da colonização agrícola em Santa Cruz. (Estado do Rio de Janeiro, 1930-1968). Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (PPGH/UFRRJ), 2017. Disponível em:
https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/trabalhoConclusao/viewTrabalhoConclusao.jsf?popup=true&id_trabalho=5040592. Acesso em 4/12/2018.

SOUZA, S. de N. Fazenda Real De Santa Cruz – Patrimônio Histórico, artigo sem data em PDF, Acesso em 5/12/2018.

TOSH, J. A Busca da História: objetivos, métodos e as tendências no estudo da história moderna. Petrópolis – RJ: Vozes, 2011.

VIANA, S. B. R. A Fazenda de Santa Cruz e a Crise do Sistema Colonial (1790-1815). Artigo em PDF sem data disponível. Acesso em 3/12/2018.

Nenhum comentário:

Postar um comentário