quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Os trabalhos mais recentes

Recorte da capa da Tese de Carlos Engemann.
A maioria dos livros sobre a história da cidade do Rio de Janeiro que são encontrados nas livrarias de todo o Brasil, sempre passam bem longe do território que vai de Realengo à Santa Cruz. Livros como "Recordações do Rio Antigo" de Luís Edmundo, e teses como "Os servos de Santo Inácio a serviço do Imperador: demografia e relações sociais entre a escravaria da Real Fazenda de Santa Cruz" de Carlos Engemann, apresentada em 2002 na UFRJ, são algumas raras exceções.

Muitas vezes, a história destes bairros periféricos é escrita por historiadores amadores e pouco conhecidos. No caso de Santa Cruz podemos citar os livros de Benedicto de Freitas (1977, 1985, 1987) e Márcio Antonio de Azevedo (1984), os textos do professor Sinvaldo do Nascimento Souza (1984, 1985, 1986, 1995), entre outros. As obras desses verdadeiros desbravadores da memória local reúnem um acervo, quase sempre desconhecido da maioria dos acadêmicos, mas que contém informações preciosas. "Podemos dizer que estes pesquisadores são muito importantes porque têm acesso aos documentos e depoimentos de moradores antigos", conforme diz o historiador Nireu Cavalcante de Oliveira, especialista em história urbana.

De maneira geral, na historiografia brasileira, o trabalho historiográfico sempre foi feito por eruditos, autodidatas e outros profissionais. Tal fato não deve ser desprezado, pois grandes historiadores como Capistrano de Abreu e Adolfo de Varnhagen, também foram formados em outras profissões, e nem por isso as suas obras deixaram de ser importantes. É importante notar que a partir da década de 1940, com a renovação das faculdades de Filosofia, dos cursos de especialização e pós-graduação, começaram a ser oferecidos ao historiador os instrumentos necessários para o estudo do passado através de meios mais modernos da pesquisa histórica e então, aos poucos, inclusive com algum apoio oficial, pesquisadores com formação acadêmica, em instituições públicas e privadas, irão substituir esses autodidatas. 

No caso de Santa Cruz; iremos encontrar uma certa variedade quanto a este fato. Pesquisas bibliográficas realizadas em várias instituições na área metropolitana do Rio de Janeiro revelaram que essa produção é quase toda oriunda de acervos familiares, institutos históricos, bibliotecas e centros culturais. Também encontramos obras de historiadores santa-cruzenses com referências a um passado em ligação com o presente e cujos trabalhos não conseguem relacionar a realidade atual como fruto de opções e escolhas anteriores.

Por outro lado, é importante haver um relacionamento entre a Universidade e a história local e no currículo dos cursos de História dos vários bairros e cidades deveria constar uma disciplina que estudasse o passado dessas localidades. Já que a dinamização da história local só será possível na medida em que houver uma maior integração com a Universidade e também com as Escolas. 


Logo do NOPH criado pelo artista plástico Lui Fer em março de 1984. 
O NOPH é reconhecido de Utilidade Pública pelas Leis nº 590, de 15 de agosto de 1984 (Município) e Lei Estadual nº 1207, de 22 de outubro de 1987. Registrado no Ministério da Cultura como Pessoa Jurídica de Natureza Cultural, no Ministério da Fazenda CNPJ 30.031.223/0001-87 e no Município do Rio de Janeiro (ISS), com a Inscrição nº 02 107.368

Em relação a isso, o bairro de Santa Cruz conta com o Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica, entidade criada com esse objetivo e que iniciou a partir de 1983, um grande esforço neste sentido executando um levantamento do acervo documental existente sobre Santa Cruz em poder das famílias tradicionais do lugar, bibliotecas e institutos históricos, sendo então todo esse trabalho divulgado através de boletins que até hoje, apesar das dificuldades encontradas, vem sendo distribuídos em escolas e universidades. 

Mesmo assim, muitas vezes, a falta de vontade política e financeira, e um maior entrosamento com estas instituições não chegaram a produzir o incentivo e o apoio necessário a produção e a pesquisa sobre a história local. Mesmo assim, não se pode desvalorizar nada do já foi produzido. Pelo contrário, é preciso continuar a trabalhar cada vez mais, conscientizando a comunidade local no sentido de mostrar que o conhecimento histórico é um instrumento fundamental para o entendimento do presente e do futuro.

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